segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A dor da perda

Nos últimos dias, recebi tristes notícias de pessoas que se foram desta para melhor (eu realmente acredito que as coisas só melhoram, depois que esse monte de carne, osso, pele e sangue se vai). Nenhuma destas pessoas que morreram era amiga ou parente direta minha, mas ainda assim eu fiquei com aquela expressão borocoxo de quem passa por algo triste.

Quem morreu não estava em meu dia a dia, mas estava na rotina de pessoas que eu amo e admiro. Olhar para essas pessoas queridas e ver em suas expressões a dor da perda me faz sofrer junto. Sou daquelas bobonas que não conseguem se abster do sofrimento alheio. Fico triste, quero consolar de alguma forma, tornar o fardo menos pesado, dizer que estou aqui a qualquer momento, para o que der e vier. Quero amenizar a dor da perda e dizer que isso também vai passar.

Quando falo isso, juro que sei o que estou dizendo. Um ano atrás, minha avó Vicentina faleceu. Há semanas penso em falar sobre ela aqui e parece que o momento certo chegou. Minha avó paterna era uma daquelas senhoras da terceira idade que tem na doença o seu melhor assunto. Reclamona, sempre dizia que nada estava bom e dificultava a convivência com os filhos e netos. Eu olhava para ela e tentava superar minha impaciência da juventude, pensando que tudo o que ela precisava era de algum carinho e alguém que ouvisse com interesse um pouco de suas lamúrias. Com ironia, nós netos e filhos vivíamos dizendo que ela era a mais forte de todos e seria a última a morrer.

Acontece que a vó Vicentina ficou doente de uma hora para outra e foi parar no hospital. Para alguém com apenas 74 anos (e acho sim que setenta e poucos anos é uma idade ainda muito jovem), ela definhou em apenas 70 dias. Vi toda aquela fortaleza se esvair em uma cama de hospital público, implorando para beber água - item proibido para quem faz traqueostomia. Experenciei minha vó transmitir sentimentos e diálogos inteiros pelos olhos. E dei valor a ela...

Aqueles dias de outubro e novembro de 2009 aproximaram filhos, tios, primos e netos. Mostraram que há pouquíssimo nessa vida que merece realmente ser levado a sério. Fizeram com que eu enxergasse que é preciso viver o aqui e agora, agradecer por essa vida doida e incoerente desse minuto, que ter muitas expectativas das reações alheias é sinônimo de muita desilusão e que, principalmente, é preciso dizer e verdadeiramente sentir o amor por si e pelas pessoas.

Eu nunca mais fui a mesma, depois que minha avó morreu. Ela me ensinou muita coisa e acho que nem sabe. E é isso que, dentro de minha insignificância, posso dizer a quem já passou, passa ou ainda vai passar a dor da perda: isso também acaba e se vai. Mas você, que fica, será alguém melhor.

Um beijo meu!

Um comentário:

  1. " ... é preciso dizer e verdadeiramente sentir o amor por si e pelas pessoas... "
    Isso é algo certíssimo Ana, e que, também por experiência própria, aprendi no momento da dor da perda... somos assim mesmo, burros... demoramos para aprender o verdadeiro sentido da vida, e é engraçado, mas, não vejo outra maneira, é assim mesmo que aprendemos verdadeiramente e nunca mais erramos, pelo menos, esse tipo de erro, nunca mais!!! É o que tenho tentado todos os dias...
    Lindas palavras... perfeitas... é assim mesmo que funciona!!!

    Grande beijo e admiração...

    Ana Lú.

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