domingo, 29 de julho de 2012

História de começo, meio e...

Lembro de que sempre gostei de ler, mesmo quando eu ainda não sabia ler. Pedia ao meu pai que lesse uma história de gibi para mim, antes de dormir. E ele sempre fazia isso com efeitos sonoros, onomatopeias e tal. Era o momento mais esperado do dia. E quando eu finalmente aprendi a ler, do alto dos meus seis anos, parece que um mundo se abriu para mim. E eu nem sabia o que era inglês ou globalização.

Quando eu lia, fosse um livro, um gibi ou tirinhas no jornal, me parecia que eu podia viver várias vidas em uma só. Podia ser outra pessoa, mesmo que continuasse fisicamente a ser a mesma. Podia ter outros nomes, falar outros idiomas, morar em outros lugares, ter outras famílias e até amores – sem nem saber direito o que raio eram amores. E tudo isso sem sair de mim ou daquela vida que eu nem sabia como era ou no que ia dar.
Ao longo dos anos, li incontáveis livros, sobre zilhares de histórias, cenários e personagens. De uma forma ou de outra, sempre me identifiquei com algum deles e aquele jeito de ser passava a compor minha personalidade. Depois de algum tempo, me dei conta de que, na verdade, são os livros que nos escolhem. É impressionante como um livro cai em minha mão, de forma completamente inesperada, e vem ao encontro do momento que estou vivendo. É como se eles abraçassem meus ombros e me dissessem: “seja o que for, vai ficar tudo bem”.
Todas as vezes que sou escolhida por um livro, algo de muito importante está se passando em minha vida. É quando, mais uma vez, tenho a oportunidade de sair de mim e buscar o desconhecido. Atravessar um rio de outras vidas, saborear um pouco de cada uma delas, flertar com o escuro e retornar com a certeza de que não adianta: por mais que eu conheça e reconheça outras vidas tão interessantes ou bacanas, sou eu mesma quem eu quero ser para o resto dos meus dias.
No lugar certo
Ao me deparar com essa certeza, uma enorme curiosidade me é despertada. Sim, porque passei as últimas três décadas da minha vida me desculpando por existir. Desculpando-me por ser quem eu sou, por me sentir como me sinto, por pensar o que penso e por me expressar do jeito que me expresso. De alguma forma, sempre achei que a culpa fosse minha. Que eu havia perdido o timing das coisas, que eu que não era boa o suficiente, que aquele trabalho, aquela condição ou aquela pessoa era demais para mim.
Eu não sei por que me sentia assim e porque achava que era eu a culpada por tudo. O ponto é que hoje, quando deito a cabeça no travesseiro, tenho comigo a consciência e a leveza no coração de que eu fiz tudo o que eu podia fazer até aquele momento. De que fui a melhor pessoa para mim e para o meu entorno, sobre tudo que me foi possível. Tenho o sentimento de que valho muito a pena e de que sou sim um misto de sensações, emoções, pensamentos, ações e realizações. E porque sou humana, simples assim.
Mas o que livros têm a ver com isso? Bem, posso dizer que, de verdade, chegar a essa consciência, a esse nível de autoconhecimento só me foi possível por que muitos livros foram digeridos ao longo do tempo, e que me foram fundamentais para perceber que cada coisa tem o seu lugar, inclusive os sentimentos. Além dos livros, também a espiritualidade, a terapia, a busca incansável pela evolução. Sim, porque a verdade é que eu mesma sou livro por essência; sou longa, profunda, com narrativa, discussões, fantasias, acontecimentos, começo, meio e fim. Mas a hora da conclusão ainda não chegou. Ponto e espera o próximo capítulo!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O negócio é se bancar


Troço chato nessa vida é conviver com quem fica em cima do muro. Nem dá e nem desce. Não opina, só escuta. Não se coloca, só se esconde atrás das opiniões alheias. Não se banca, só procurando sombra em quem se arrisca e confia no próprio taco.

Honestamente, eu não sei qual é a dessas pessoas e o que elas têm para me ensinar. A ser prudente? A não escancarar a minha opinião? A me resguardar de exposições em cenários não-amistosos? Pode ser tudo isso, mas acho que essas pessoas me ensinam, sobretudo, a não ser como elas.

Não tô falando aqui que me acho melhor, só porque expresso o que sinto e o que penso por meio de linhas como estas, ou pelos olhares e gestos que saem de mim frente às situações do dia a dia. Tô falando sobre a coragem de se bancar. Sobre apostar no próprio taco e dar a cara para bater de que é enfrentando a vida que as coisas realmente mudam e podem ser melhores.

Eu sinceramente não conheço pessoa que tenha conseguido fazer um turn around com a própria vida, sem ter tomado decisões. Mesmo que fossem aquelas conflituosas, que ninguém quer tomar, que ninguém quer pôr a mão, mas que são um santo alívio no momento em que se deixa a vida seguir o seu curso.

E isso é tão curioso, porque hoje foi um dia em que me deparei com uma serie de sinais sobre a forma que conduzo minha existência nesse mundo. Durante uma reunião de trabalho, um criativo virou pra mim e comentou sobre a forma não-linear como toca a vida, filosofando sobre o fato de que é um cara que nunca teria uma vida de algo só; um casamento só. Uma casa só. Um trabalho só. Um plano de vida só. Ele se diz alguém que sai do prumo, que busca respostas, que vive uma inquietação constante que, ao mesmo tempo, atormenta e alivia, porque mostra a constância e a fragilidade da vida.

Ao lado dele, tínhamos uma colega que é o oposto desse cenário. Alguém estável, de vida equilibrada, sem sustos, sem grandes surpresas. E eu ali, entre eles, fiquei impressionada ao trazer esses exemplos pra mim. Enxerguei com uma clarividência sobrenatural o fato de que jamais serei alguém plano, uma mulher de uma vida calma e simples. Eu não sou assim. Pode ser que um dia eu esteja assim, mas não sou hoje e nem sei se serei em algum momento futuro.

Mulher de fases
Enxergo em mim uma Ana de mil facetas, de gargalhadas exorbitantes e uma tristeza sem fim, de zilhões de contradições e buscas desenfreadas por respostas que não apaziguam minhas perguntas e que não me deixam parar nunca. Me vejo nesse mundo de cabelos compridos (hoje, compridos. sabe-se lá amanhã...), lápis nos olhos, penduraquilhos nos braços e saltos no céu. Alguém que tem medos, certezas, que se engana, que adora observar as sensações e emoções do outro, que cai, mas não desmorona... que ainda acredita em amor de verdade. Aquele amor que mistura a paixão, a admiração, o respeito, o medo, a insconstância, o frênesi, a raiva, a calmaria e parceria de uma vida inteira.

No meio disso tudo, o que enxergo é uma Ana que se banca, independentemente das consequências. Que vive porque sabe que, no fundo, a resiliência é prima-irmã das conquistas que realmente valem a pena. Sou eu assim: doida, santa, muda, coragem. Mas sou eu, imperfeita assim, que assumo meus erros, que odeio injustiça, que não suporto indecisões, incoerências e esquizofrenias. Que ama crianças, idosos e cachorros, além de árvores, flores e o ceú com ou sem chuva, com ou sem sol ou lua. Sou essa aqui que precisa das letras, das palavras e do espaço em branco pra colocar pra fora tudo o que se mistura, se configura e se entrelaça dentro de mim.

Sou essa Ana que não aceita mais "dog days", nem sentimentos pela metade. Sou essa Ana intensa, independente, forte, medrosa, marcante, idealista, perdida e achada 2.587 vezes por dia. Mas sou eu. E me aceito e me amo assim mesmo. Até o dia de virar a curva e dizer tchau.

É isso!