terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aos machos de plantão

Como é que você explica para um homem que há dias em que simplesmente você não consegue se explicar ou se traduzir – nem que fosse desenhando?!

Há dias, juro!, em que nem a gente se entende. Só sabe que não queria ter saído debaixo das cobertas, demorado meia hora para secar o cabelo e mais meia hora para se arrumar e se maquiar, menos ainda ter dirigido por quase duas horas para chegar ao trabalho – sem café da manhã! – e ainda menos sentado para discutir a droga de uma política de segurança do trabalho que, honestamente, não mudará peanuts a vida desta bendita mulher!...

Da altura do meu conhecimento sobre mim mesma e sobre o comportamento feminino – que dirão as conversas infinitas com minhas diversas amigas, mãe e irmã... –, a mulher de hoje é capaz de carregar um vulcão de 60 anos de erupção ativa, compartilhando o espaço com mais 349 tarefas diárias, lembretes, cuidados e apreços sem fim. Carrega ainda uma capacidade magnânima de loucura – já reparou em como somos, literalmente e de forma bem descrita por Martha Medeiros, verdadeiras doidas e santas no mesmo corpo e ao mesmo tempo?! –, empacotada em cabelos longos ou curtos, tingidos ou naturais, sobre saltos ou sapatilhas e um bocado de boa vontade em cada uma das 9.854.765 decisões que é obrigada a tomar por dia.

E por que a gente briga, raios? Eu sei lá porque a gente briga! Briga porque tá triste. Porque não sabe como traduzir o que vai aqui dentro. Porque, muitas vezes, simplesmente não sabe como pedir ajuda e um ombro pra chorar. Briga porque não sabe colocar em expressões bonitas e organizadas toda a bagunça que vai dentro do coração, seja porque está fisicamente cansada demais ou porque as pancadas emocionais já machucaram muito e falta um bocadinho mais de fé para entender que a hora certa vai chegar – seja que droga de imbecil de hora certa é essa!!!

Piti de ocasião
Quando a gente dá chilique para vocês, machos de plantão, é porque a gente não consegue traduzir em palavras o quanto a gente precisa de carinho e atenção, ao invés de reclamações e grosserias pela nossa falta de objetividade. A gente já sabe que está chata e pouco atraente! Mas a gente também quer que vocês saibam que a gente não dá conta de tudo o tempo tudo e que vestir essa droga de capa de mulher maravilha cansa um bocado, embora vocês adorem o fato de que a gente deixa tudo muito mais fácil, limpo, bonito e organizado para vocês!

Quando a gente dá chilique para vocês, o que a gente quer dizer é que a gente quer vocês por perto, dando aquele abraço enorme que parece que vai nos salvar do mundo inteiro e que tudo vai ficar bem. Não precisa falar muito, basta só estar ali, por perto, ao lado, na guarida.

Quando a gente dá chilique para vocês, é porque a gente cansou de cumprir 100% de todos os papéis que a sociedade, vocês e até a gente mesma se obriga a dar conta todos os dias. É porque a gente também precisa daquele colo, daquele ombro e daquele par de ouvidos enormes que aturam todos os nhenhenhéns de vocês, desde o gol impedido do Santos no Corinthians até o chefe mau caráter que lhes passa a rasteira no trabalho. O que a gente quer é reciprocidade, sacaram? Simples assim.

Agora, me deem licença, porque vou para debaixo do meu edredom virtual, dar conta de get myself together e voltar com força total pra me bancar no dia a dia.

Ponto, parágrafo e fecha o livro!

domingo, 12 de agosto de 2012

"Quem é o pai?"

É o que sempre me perguntam, quando ainda não me conhecem e me vêem com o meu filho Lucca. Num dia bom, respondo que o pai dele é americano e que continua morando nos Estados Unidos (o que também é um saco, porque a partir daí seguem-se zilhares de outras perguntas: mas ele já conhece o pai? o pai já veio para o Brasil? mas conta essa história... blablablablabla). Num dia ruim - leia-se: de TPM ou TDM -, eu respondo: sou eu mesma. Sou "pãe": a melhor definição para mulheres como eu que, além do papel materno, cumprem a paternidade como dom divino e necessidade de ocasião.

Bom, e daí tudo isso? Daí que nesse domingo, 12 de agosto, foi celebrado o Dia dos Pais no Brasil. Já meio perto dos oito anos, o Lucca se habituou a fazer presentes e cartões na escola, que são destinados ao meu pai, avô e melhor amigo dele - o "Mate", melhor amigo do McQueen (o qual o Lucca se auto-denomina). Para mim, a esta altura do campeonato, esse pensamento natural do Lucca em reverenciar meu pai nesta data é algo bem normal.

É meu pai quem o busca na escola e participa das reuniões de pais e mestres, nos dias em que eu não posso. É ele quem toma banho com o Lucca e ensina as "coisas de menino", que eu não entendo e não tenho como explicar. É meu pai Roberto (com a doçura e gentileza eternas de minha mãe querida, a Alice) quem impõe limites ao meu filho, enquanto ainda não cheguei do trabalho. E é ele que, principalmente, abençoa meu filho antes de dormir todas as noites.

Papel e amor dobrados
Não me surpreende, sobremaneira, ver meu pai tão querido sendo tão presente, tão assertivo, tão bacana com o meu filho, durante todo esse tempo. Meu pai, o Roberto, é alguém que sabe na pele (tanto quanto o Lucca saberá em um futuro breve) o que significa não ter uma figura paterna de verdade por perto. Ele, como o Lucca, sabe bem qual é a sensação de não ter um pai que o busque na escola ou que leia para ele, antes de dormir. Tampouco explique para ele porque algumas coisas entre mães e pais não dão certo ou porque o formato da nossa família é diferente da maioria.

Meu pai, toda vida, foi meu herói. Foi quem me carregou nos ombros e me levou para comprar balas na padaria perto de casa. Dançou valsas imaginárias comigo, em cima dos pés dele, aos meus tenros quatro anos de idade. Que, ano após ano, encampou todos os meus cadernos e apostilas com o máximo do perfeccionismo. Foi ele que, a duras penas, tentou me ensinar Matemática por anos a fio (sem sucesso, devo reconhecer!). Foi meu pai também que pagou todos os meus 20 anos de estudo até a conclusão da faculdade, me deu meu primeiro carro, me estimulou a perserguir e conquistar os meus sonhos e me acolheu em todos os momentos de tristeza e auto-abandono.

Quando o vejo tratando o Lucca não apenas como o neto mais querido desse mundo, como também o filhinho homem que ele não teve, eu o vejo ainda cuidando daquele Beto pequenininho, que foi abandonado pelo pai tão menino quanto o Lucca. E vejo que ele faz de mim, da minha irmã, até da minha mãe querida, além do próprio Lucca, a criança amada, protegida, segura, querida e bem acolhida que ele sempre quis ser.

Assim, eu até posso ser "pãe" (uma vez que as contas, as broncas, grande parte das responsabilidades de se cuidar e de se criar um filho estão comigo - e por opção!), mas, como eu, meu pai também assumiu um papel dobrado que só traz um amor em dobro também. E como é bom ter a ele - e não a qualquer outro traste que se diz homem ou pai - como o melhor exemplo masculino que meu filho poderia ter nessa vida!

Salvem todos os homens que são pais de verdade e também todas as mães que cumprem esse papel brilhantemente, com o principal objetivo de criar filhos decentes e dignos para esse mundão de meu Deus!

E como diria o ator Milton Gonçalves, em entrevista genial ao programa "Em busca do pai", do canal GNT: "Aquele que é pai não tem o direito de esquecer o seu fiho. E mesmo quando longe muito tempo, no reencontro, tem que manifestar alegria de rever aquilo que é o seu vínculo fundamental.". Em minhas próprias palavras, eu não definiria melhor o que vai aqui dentro...

E ponto, parágrafo. Até o próximo capítulo!