domingo, 17 de janeiro de 2016

Sobre o amor e outras coisas

Eu não sei você, mas vivo me perguntando se sei mesmo o que é amor, o que é amar, o que é sentir isso que todo mundo vive dizendo que precisa, que sente, que deseja, que adora, que odeia. O que raio é essa história de amar?

Já são muitos anos de terapia, de auto-ajuda, de espiritualidade, de investimento no meu auto-conhecimento. Já são muitos anos de evolução, involução e revolução aqui dentro, também. Uma necessidade enorme de entender meus sentimentos, de racionalizar, eu admito. Quando racionalizo, parece que volto a ter controle sobre o que eu sinto. Então, fica mais simples de tocar a vida em frente, quando as coisas não saem exatamente como eu queria ou imaginava que seriam.

Nas poucas ocasiões em que me vi ou vejo "amando" alguém, que não meus familiares ou amigos, sempre me pergunto se o que eu amo é a atitude dele sobre mim ou se é o que ele me faz sentir. Se o que eu acho que é amor é essa ebulição que vai aqui dentro, essa vontade de estar junto, de sentir o cheiro, de rir junto, de fazer alguma coisa ou ouvir uma música que me remete a ele. De sentir aquele aconchego no abraço enorme e terno, de encontrar paz na voz que ri, que conta uma história e se despede, esperando por mais... Aquela sensação frequente de déjà vu, de enxergar o rosto dele a todo tempo, de reviver os bons momentos, de ansiar pelo próximo encontro. Isso é amor ou auto-amor? É se enxergar no outro, é enxergar o melhor de si no outro? É dar de encontro com a auto-imagem, o auto-amor, a felicidade em pílulas?

É tudo isso aí ou é carência, ou impaciência ou uma vontade sôfrega de me entender por meio do outro? Eu sei; é pensar demais. É meu lado terra, meu medo de perder o controle e de não me encontrar mais. Meu medo de deixar o outro entrar e me vasculhar, e encontrar todos aqueles cantos escuros que eu não sei lidar, que eu nem quero ver ou comentar.

Eu não sei. E, na verdade, nem sei se um dia eu saberei o que amar. Com os anos idos, foram tantas experiências aqui e ali, nesse continente e no outro, de quem eu esperava ou fui tomada de surpresa... Tudo isso que me faz crer que amar mesmo eu só saberei quando não mais amar. Eu digo isso, porque, para mim, a verdade verdadeira é que eu só me dou conta de que senti muito, de que senti demais, de que fui muito e em demasia, quando o auge passou e, então, eu me dou conta de quem eu fui, do amor que me dei, de quem ele foi e de tudo o que de melhor vivemos; do que deixei nele e das marcas que ele deixou em mim.

Amor? Não sei não. Quando ele estiver por aí, diga que mandei lembranças. Diga que foi bom, que me fez bem e que vou gostar de reencontrar um dia.

A paz! E bem também. Pra mim, pra ele e pra você!

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Aprendendo a ler os sinais

Menos de dois dias após o último post, precisei voltar e escrever. É que as palavras têm me perseguido desde a noite passada. Brotam de cada neurônio meu e urgem por serem materializadas. So...


Mesmo quando eu era criança, de alguma forma, eu sempre achei que as coisas aconteciam por um motivo maior. Talvez tenha sido minha base católica – da crença enorme em Jesus Cristo e tudo o que o levou a se sacrificar numa cruz – que tenha me feito pensar dessa forma. Talvez, também, seja esse meu jeito “profundo” de ser, de analisar as coisas, de refletir sobre as causas e consequências do que eu faço, do que os outros fazem comigo, do que eu vejo por aí.

O fato é que por vezes, mesmo com essa minha personalidade e essa minha base espiritual, eu me nego a ler os sinais que a vida me manda. A depender do meu momento, minha tendência é a de entrar numa concha e negar a realidade. Possuo uma tremenda facilidade para inventar um mundo paralelo e, ao longo do tempo, acreditar naquilo que vou criando, ignorando absolutamente todo e qualquer sinal de alerta que me possa ser direcionado.

E o que isto quer dizer? Significa, pura e simplesmente, que eu também vou juntando pedacinhos aqui e ali, galgando migalhas desta e daquela situação ou pessoa, para abastecer esse meu mundinho iludido e – por que não dizer? – de mentira.

Também é fato que essa minha “válvula de escape” vem calcada numa lista já considerável de nãos, rejeições e etc. Convenhamos que cada um lida como pode e como quer com situações assim. Tem gente que joga a toalha e comete suicídio. Tem outros que criam um tremendo muro em torno de si, de forma que ninguém mais consegue conhecer essa pessoa de verdade verdadeira.
 
Tem também aqueles que decidem partir pra cima e deixar de ser vítima para se tornar carrasco e começam a derrubar os outros. Os mais evoluídos simplesmente conseguem pegar o que tem de lição de cada momento e seguir, subindo degrau por degrau. Mas eu não caibo em nenhum destes personagens que citei. Meu negócio é criar o mundo paralelo e me alimentar de ilusão. É meu jeito de me proteger, de me acolher...

De cara no chão
Vez ou outra, alguém vai lá, me puxa pelo dedo mindinho do pé esquerdo e me derruba dessa fábula encantada. E me dá uns tapas na cara e aponta o dedo em riste no meio do meu nariz  e me pergunta aos berros quando é que eu vou deixar de ser idiota, menininha e crescer para encarar as coisas com a realidade que elas exigem. E eu sempre me nego. Me nego, porque dói muito, porque sou obrigada a encarar aquilo que me magoou ou ainda magoa e, sobretudo porque, no auge dos meus 34 anos, eu definitivamente ainda tenho muito o que amadurecer e me equilibrar.

É engraçado... Abrindo um parêntese: agora, tenho a clareza do porquê me tornei jornalista. Eu precisava aprimorar minha capacidade de escrita, uma vez que sinceramente meu coração ‘fala’ por meus dedos. É pela escrita que eu consigo materializar o que vai dentro de mim. E tenho tanta necessidade de colocar para fora o que vai aqui, porque é tão intenso, é tão grande, é tão enorme, que não me cabe, que me faz perder o ar... não consigo manter dentro de mim...
 

Enfim, acho que sou como todos aqueles que desejam ser felizes nesse mundo. Olho para o dia a dia e tenho uma ânsia tão grande de mudar tudo, de ser feliz, de não desperdiçar esse pouco tempo que eu tenho aqui, nessa terra. Ser humano é muito idiota mesmo. Acha que tem todo o tempo do mundo para abrir mão dos imediatismos, das responsabilidades para, enfim, ‘um dia’ ser feliz.
 
No fim das contas, acaba por se moldar numa inflexibilidade de certezas, de convicções que dão aquela falsa sensação de controle... E para quê? Para provar que está certo, que tem razão. O negócio é que razão nunca casou e nunca casará com felicidade. E eu, honestamente, abro mão de ter razão em prol de ser feliz. Danem-se as certezas. Danem-se os caminhos exatos.

Mesmo com a base católica, eu sei muito bem que o que Deus sempre quis é que nós fôssemos felizes, respeitando os demais. É que tivéssemos a capacidade de verdadeiramente nos diferenciarmos das pedras, que não pensam e não mudam, e conseguíssemos nos desfazer, nos desapegar do que nos segura, nos emperra o crescimento, e reconstruir um novo caminho.
 
Sim, porque definitivamente, eu não consigo enxergar o que há errado em mudar de ideia, mudar de rota, admitir que aquilo ou aquele alguém não combina mais com a nova fase de vida. E não. Não quero dizer que as pessoas são descartáveis, porque não são. O que quero dizer é que não vejo o que há de errado em enxergar e admitir que é preciso se reinventar e seguir um novo caminho com ou sem esta ou aquela pessoa.

E é isso o que eu quero pra mim. Quero ter, sobretudo, a coragem de enxergar e admitir que eu preciso de outro rumo, de levantar o rosto escarafunchado do chão, sacodir a poeira e estender a mão, pedindo ajuda. Ajuda para ler os sinais que tenho me negado tanto a encarar. Coragem e sabedoria para recomeçar seja do ponto que for. Coragem para me bancar e admitir minhas fraquezas, minhas limitações, e também minhas qualidades, minhas características exclusivas, meus desejos. Coragem para seguir em frente, construindo histórias, lembranças e novos caminhos. Coragem para recolher meus cacos e criar um molde diferente.

Posso não ser referência para quem quer que seja. Posso ser, aos olhos dos outros, uma ridícula caduca de 34 anos que ainda insiste em não amadurecer e em ser mais assertiva. Mas eu tenho certeza de uma coisa: tudo o que eu sou, tudo o que vai dentro de mim é de verdade e eu admito para quem quer que seja – principalmente para mim mesma. E se amanhã for tudo diferente, que seja diferente então. E admitirei que tudo mudou. Simples assim!

terça-feira, 14 de maio de 2013

O tempo da saudade

Confesso: eu não fui ensinada, treinada, educada para sentir saudades, para sofrer perdas. E também confesso que ainda tenho bem pouco evoluída essa capacidade dentro de mim.

Não ganhar uma partida no jogo de tabuleiro, não ser selecionada num concurso, pegar a cartela mais fuleira do bingo da igreja, perder até na raspadinha... Tudo isso faz parte da vida, mas perder pessoas definitivamente não é comigo.

E quando eu falo em "perder pessoas", não estou falando apenas daquelas que partem desta para uma melhor, como aconteceu com minha querida avó Vicentina, em 2009. Falo daquelas que partem para outro lugar, para outro trabalho, para outra cidade, para outro país. Falo daquelas que, de uma hora para outra, deixam de fazer parte do seu convívio, da cumplicidade da vida diária, para seguirem outro rumo.

É óbvio que fico feliz pela mudança delas. No fim das contas, todos nós buscamos algum tipo de evolução; algo que nos sacie essa contínua inquietação. Mas não posso negar minha tristeza em não ter por perto aqueles que me são tão caros, tão mágicos, tão queridos. Sinto como se um pedaço de mim fosse embora também e dói.

E agora?
Hoje, 14 de maio, estou sofrendo mais uma perda. Mas não é qualquer perda. É a ida de alguém que me tem uma importância absurda. Alguém em quem confio meus segredos, minhas fragilidades, meus sonhos. Alguém com quem possuo uma afinidade, uma identificação, uma cumplicidade sem fim.

É também alguém com quem quebro o pau, discordo, brigo e choro. Alguém com quem troco ideias e dúvidas sobre o trabalho, sobre a vida familiar, social, pessoal. Alguém que eu adoro desde o primeiro dia pela plena capacidade de se superar, pela extrema auto exigência, pela ética, pela generosidade e, acima de tudo, pela integridade. É alguém de uma integridade que eu nunca vi igual; uma pessoa digna de referência e sincera admiração. 

Essa pessoa tem a dignidade de me ouvir, de me aturar nos piores dias da TPM, de também discordar de mim e de me dizer grandes e pequenas verdade na lata, de me elogiar e admirar meu jeito de falar inglês e de palpitar sobre as coisas. É alguém que tem a capacidade de pedir desculpas, quando enxerga que exagerou na mão. Alguém que deseja o meu melhor tanto quanto eu à ela.

É... vai ser duro não te ter mais por perto, pessoa tão querida. Vai ser duro me acostumar à sua ausência, a não almoçar ou tomar aquele lanchinho rápido da tarde com você, falando e ouvindo sobre 398 assuntos ao mesmo tempo...

E agora? Como é que vai ser sem você? Como é que vai ser não te ver mais? Como é que vai ser não ter mais essa sensação sublime de conforto, de "casa", de cumplicidade, de carinho, de bem querer? Para mim, é como você me disse recentemente: "uma amizade verdadeira, que não é apenas de momentos bons, vale muito mais que vários amores".

Espero, apenas, que você leve consigo um pedacinho do que eu tenho de melhor. E que também deixe comigo um pedacinho seu; um pedacinho de todo esse seu bom coração.

Aprendi tanto com você, durante essa nossa jornada juntos. Amadureci tanto a partir das nossas conversas. É... vai ser duro. Mas forte como você é, eu vou seguir em frente. E tudo para também te ver brilhar. Amo-te!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A vida durante e depois da Philadelphia


Em 11 de fevereiro de 2003, exatos dez anos atrás, desembarquei com a minha recém-amiga Mariana Petrulio na cidade de Newark, em New Jersey. Ambas tínhamos programado nosso intercâmbio como au pairs um ano antes e não tínhamos ideia de que iriamos trabalhar e morar com famílias vizinhas, tampouco o que nos esperaria durante aqueles doze meses que se seguiriam. A gente nunca tinha saído do País.
 
Deixamos nossas famílias para trás, eu deixei meu então noivo de quatro anos, deixamos carreira, estudo, etc., tudo em nome de viver uma experiência que nos traria a fluência no inglês, tão necessária para nos levar mais longe na vida. Naquele momento, a gente não tinha noção de que havia ido mais longe do que jamais pensávamos que iríamos.
 
Eis que, após quatro dias de treinamento numa universidade da região, encontramos nossas respectivas host moms no pátio de um dos maiores shoppings do mundo, o King of Prussia Mall. De lá, partimos para nossas novas "casas" e uma vida nova em folha começou.
 
Confesso que estava assustada. Fui tão determinada a estudar por um ano e voltar para o meu país, sabendo melhor sobre como falar em inglês e acreditando que continuaria a ser a mesma pessoa, retornando para o meu noivo e, dali, iniciando os preparativos para um casamento que, no fim, nunca aconteceu... Aos recém-feitos 24 anos, eu não sabia de nada mesmo...
 
Os três primeiros meses foram péssimos. Era tanta saudade de casa, dos meus pais, do meu noivo, da minha cama, do meu idioma, que eu mal conseguia aproveitar as novidades. Fora a dificuldade em entender as pessoas, as crianças, em gostar daquela comida tão diferente, daquele frio de lascar.... Mas o tempo foi passando e Mariana e eu fizemos amigas - brasileiras, claro!
 
 
Em pouco tempo, Mariana, eu, Mirella e Vanessa nos tornamos um quarteto inseparável e éramos a família umas das outras; aquele laço que nos remetia ao nosso país, às nossas raízes, à nossa base, ao nosso eu mais íntimo. Fazíamos tudo juntas e cuidávamos umas das outras como uma amiga-irmã faria. Aos trancos e barrancos, isso se deu até o final da minha jornada, um ano e meio depois.
 
As melhores pessoas
Assim como minhas amigas queridas, comecei a conhecer pessoas bacanas demais. Brasileiros, americanos, asiáticos, espanhóis, indianos... Minha própria host family, os Quayles, foi a síntese de como é possível se relacionar com alguém completamente estranho e fazer uma amizade para toda a vida, mesmo tantos anos depois e com tanta distância entre um ponto e outro.
 
 
Kathy, minha host mom, sempre foi de uma delicadeza, de uma compreensão, de uma generosidade comigo... Sempre fez questão de me fazer sentir em casa, como parte da família. Sempre apoiou minhas decisões com as crianças. E, ah..., as crianças. Zach, que na época estava com seis anos, e Zoe, com quase dois anos, se tornaram filhos para mim. E, embora tivéssemos nossos problemas de vez em quando, eles me eram tão queridos e tão importantes como só filhos são - o que já posso falar de cadeira.
 
Tive o prazer de viver um ano com eles e de me sentir tão amada como se estivesse em meu país e, de lá, morei com outras três famílias e cuidei de mais oito crianças. Cada uma de um jeito, com sua personalidade, com sua forma de enxergar a vida. Mas os Quayles continuaram a ser minha referência e isso se dá até hoje!
 
Ao longo do tempo, fiz amizade com uma grande turma de brasileiros e foram tantas pessoas queridas que passaram por meus dias americanos... Rogério, Tequinho, Ana Paula, Carol, Juliana, Helida, Betinha linda, Romildo, Daniela, Tulio, Sabrina, Renata, Patrícia, Ricardo, Cláudio, e mais tantos. Cada um fez uma diferença tremenda na minha vida e só eu sei o quanto foram essenciais em momentos-chave da minha vida na Philadelphia.
 
Segunda casa
E o que falar da Philadelphia, a não ser agradecer? Uma cidade ímpar, de uma acolhida fabulosa, cheia de gente jovem de todo lugar do mundo, com movimento, história, belos lugares, ótimos restaurantes e pessoas encantadoras.
 
Philadelphia e eu temos uma relação tão incrível, que sonho com essa cidade. Todo esse tempo depois e fui trabalhar numa empresa que tem filial justamente na Philadelphia. Que tem funcionários que são amigos dos meus amigos brasileiros de lá! Não bastasse, fui ao cinema na sexta para assistir "O Lado Bom da Vida" (título original: Silver Linings Playbook) e aonde o filme se passa? Exato! Na Philadelphia. Deu uma saudade tão grande da minha segunda casa!... Ainda mais porque o filme é incrível e vale cada minuto.
 
De toda forma, acho que sempre terei uma relação diferente com a Philadelphia. Não só porque me acolheu como minha cidade natal e porque foi o lugar em que fiz amigos incríveis e tive um aprendizado imenso. Mas, principalmente, porque foi a cidade em que meu filho foi gerado.
 
Sim, quando embarquei para lá dez anos atrás, eu não fazia a menor ideia de que 18 meses depois traria comigo para o Brasil uma barriga de sete meses, à espera de um garotinho maravilhoso, a quem dei o nome de Lucca.
 
Parafraseando o filme "O Lado Bom da Vida", foi da Philadelphia que tudo o de melhor aconteceu comigo. Foi aonde conheci o pai do meu filho: o Dan DeTora. Nos conhecemos uma semana depois do Halloween e, mesmo não nos vendo há mais de oito anos, continuamos a fazer parte da vida um do outro. Foi por ele que tive a maior benção da minha vida. Meu filho Lucca é para mim o que há de mais abençoado, querido, prazeroso, feliz e saudável. É ele quem traz brilho para a minha vida, dia após dia. E sou muito grata ao Dan e a Deus por isto!
 
Depois que voltei ao Brasil e, dois meses depois, tive o Lucca, minha vida nunca mais foi a mesma. Uma nova etapa começou: a da real maternidade. E, desde então, tem sido uma jornada única, de descobertas diárias, de aprendizado ininterrupto, de um amor que só aumenta a cada dia.
 
 
Sei que ainda colocarei meus pés de novo na Philadelphia. E, desta vez, não estarei sozinha: estarei com meu filho. E sabe-se lá o que acontecerá e o quanto isto nos afetará, quando chegarmos à nossa segunda casa, ao nosso "secret garden".
 
Até breve!
 


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Oito anos depois...

Eu jamais conseguiria colocar em palavras o que me causou toda a ausência de você nesses mais de oito anos. É pedir demais. Nada que eu diga ou que eu faça seria capaz de demonstrar todo o sentimento e toda a importância que você e tudo ao seu redor sempre tiveram para mim.

Mas eu não sei o que acontece com a gente. Não sei porque nós, seres humanos, temos essa péssima capacidade de tornar algo bonito e próspero em algo que não cabe mais. Em algo que machuca, que magoa, que deixa aquele gosto amargo na boca. E tudo o que a gente tinha de melhor se perdeu no meio do caminho. E que falta eu sinto dos dias idos, das frases trocadas, dos sorrisos no meio da noite, dos banhos juntos, de suas covinhas e sardas no rosto.

Aquela sua capacidade única de me entender no olhar, de dizer tanto sem falar coisa alguma... e aquela minha ânsia tão grande de tirar aquele peso do mundo que você sempre carregou nas costas. Aquela minha vontade semi-heróica de libertar você da tristeza, dos traumas da infância, daquele mundo de sombras que te afastava de tudo o que era bom. O que eu queria mesmo é que você me deixasse te abraçar, te dizer que tudo passaria, que ali você estava salvo e que tudo ia ficar bem para sempre. O que eu não sabia é que aquilo tudo não estava sob o meu controle ou o seu, e que ia muito além do que eu jamais poderia imaginar. Que o final já estava escrito e que, não importava quão mais eu nadasse contra, o resultado seria o mesmo.

Quando vejo uma fotografia sua, lembro de cada detalhe dos seus braços – mesmo com a tatuagem que não é do meu tempo, mas que sei bem do significado que tem para você -, de suas mãos, de seu rosto, seu cabelo tão curtinho, aquela barba bem feita e o som da sua voz. Ah, o som da sua voz.... era um som que chegava diretamente ao mais profundo da minha alma, sem pedir passagem ou fazer escalas. Simplesmente chegava.

Eu sei que você me odeia. Eu sei que você me odeia por ter mudado a sua vida. Por ter trazido a você um passado que é presente e que será parte de seu futuro para sempre. Eu sei que você me odeia por ter te tirado do prumo e daquela sua habilidade de não se mexer por nada nem ninguém. Mas eu também sei que você me amou muito um dia  e que nem imaginava ser capaz de sentir aquilo tudo por alguém. Mas você sentiu e nada pode mudar isso. E passou. E se foi.

Eu sinto muito. Sinto por você e por mim. Sinto pelo amor que tínhamos um pelo outro. Sinto pelos dias idos e sinto muito pela nossa falta de capacidade, individual e conjunta, de não conseguir amar mais ninguém.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aos machos de plantão

Como é que você explica para um homem que há dias em que simplesmente você não consegue se explicar ou se traduzir – nem que fosse desenhando?!

Há dias, juro!, em que nem a gente se entende. Só sabe que não queria ter saído debaixo das cobertas, demorado meia hora para secar o cabelo e mais meia hora para se arrumar e se maquiar, menos ainda ter dirigido por quase duas horas para chegar ao trabalho – sem café da manhã! – e ainda menos sentado para discutir a droga de uma política de segurança do trabalho que, honestamente, não mudará peanuts a vida desta bendita mulher!...

Da altura do meu conhecimento sobre mim mesma e sobre o comportamento feminino – que dirão as conversas infinitas com minhas diversas amigas, mãe e irmã... –, a mulher de hoje é capaz de carregar um vulcão de 60 anos de erupção ativa, compartilhando o espaço com mais 349 tarefas diárias, lembretes, cuidados e apreços sem fim. Carrega ainda uma capacidade magnânima de loucura – já reparou em como somos, literalmente e de forma bem descrita por Martha Medeiros, verdadeiras doidas e santas no mesmo corpo e ao mesmo tempo?! –, empacotada em cabelos longos ou curtos, tingidos ou naturais, sobre saltos ou sapatilhas e um bocado de boa vontade em cada uma das 9.854.765 decisões que é obrigada a tomar por dia.

E por que a gente briga, raios? Eu sei lá porque a gente briga! Briga porque tá triste. Porque não sabe como traduzir o que vai aqui dentro. Porque, muitas vezes, simplesmente não sabe como pedir ajuda e um ombro pra chorar. Briga porque não sabe colocar em expressões bonitas e organizadas toda a bagunça que vai dentro do coração, seja porque está fisicamente cansada demais ou porque as pancadas emocionais já machucaram muito e falta um bocadinho mais de fé para entender que a hora certa vai chegar – seja que droga de imbecil de hora certa é essa!!!

Piti de ocasião
Quando a gente dá chilique para vocês, machos de plantão, é porque a gente não consegue traduzir em palavras o quanto a gente precisa de carinho e atenção, ao invés de reclamações e grosserias pela nossa falta de objetividade. A gente já sabe que está chata e pouco atraente! Mas a gente também quer que vocês saibam que a gente não dá conta de tudo o tempo tudo e que vestir essa droga de capa de mulher maravilha cansa um bocado, embora vocês adorem o fato de que a gente deixa tudo muito mais fácil, limpo, bonito e organizado para vocês!

Quando a gente dá chilique para vocês, o que a gente quer dizer é que a gente quer vocês por perto, dando aquele abraço enorme que parece que vai nos salvar do mundo inteiro e que tudo vai ficar bem. Não precisa falar muito, basta só estar ali, por perto, ao lado, na guarida.

Quando a gente dá chilique para vocês, é porque a gente cansou de cumprir 100% de todos os papéis que a sociedade, vocês e até a gente mesma se obriga a dar conta todos os dias. É porque a gente também precisa daquele colo, daquele ombro e daquele par de ouvidos enormes que aturam todos os nhenhenhéns de vocês, desde o gol impedido do Santos no Corinthians até o chefe mau caráter que lhes passa a rasteira no trabalho. O que a gente quer é reciprocidade, sacaram? Simples assim.

Agora, me deem licença, porque vou para debaixo do meu edredom virtual, dar conta de get myself together e voltar com força total pra me bancar no dia a dia.

Ponto, parágrafo e fecha o livro!

domingo, 12 de agosto de 2012

"Quem é o pai?"

É o que sempre me perguntam, quando ainda não me conhecem e me vêem com o meu filho Lucca. Num dia bom, respondo que o pai dele é americano e que continua morando nos Estados Unidos (o que também é um saco, porque a partir daí seguem-se zilhares de outras perguntas: mas ele já conhece o pai? o pai já veio para o Brasil? mas conta essa história... blablablablabla). Num dia ruim - leia-se: de TPM ou TDM -, eu respondo: sou eu mesma. Sou "pãe": a melhor definição para mulheres como eu que, além do papel materno, cumprem a paternidade como dom divino e necessidade de ocasião.

Bom, e daí tudo isso? Daí que nesse domingo, 12 de agosto, foi celebrado o Dia dos Pais no Brasil. Já meio perto dos oito anos, o Lucca se habituou a fazer presentes e cartões na escola, que são destinados ao meu pai, avô e melhor amigo dele - o "Mate", melhor amigo do McQueen (o qual o Lucca se auto-denomina). Para mim, a esta altura do campeonato, esse pensamento natural do Lucca em reverenciar meu pai nesta data é algo bem normal.

É meu pai quem o busca na escola e participa das reuniões de pais e mestres, nos dias em que eu não posso. É ele quem toma banho com o Lucca e ensina as "coisas de menino", que eu não entendo e não tenho como explicar. É meu pai Roberto (com a doçura e gentileza eternas de minha mãe querida, a Alice) quem impõe limites ao meu filho, enquanto ainda não cheguei do trabalho. E é ele que, principalmente, abençoa meu filho antes de dormir todas as noites.

Papel e amor dobrados
Não me surpreende, sobremaneira, ver meu pai tão querido sendo tão presente, tão assertivo, tão bacana com o meu filho, durante todo esse tempo. Meu pai, o Roberto, é alguém que sabe na pele (tanto quanto o Lucca saberá em um futuro breve) o que significa não ter uma figura paterna de verdade por perto. Ele, como o Lucca, sabe bem qual é a sensação de não ter um pai que o busque na escola ou que leia para ele, antes de dormir. Tampouco explique para ele porque algumas coisas entre mães e pais não dão certo ou porque o formato da nossa família é diferente da maioria.

Meu pai, toda vida, foi meu herói. Foi quem me carregou nos ombros e me levou para comprar balas na padaria perto de casa. Dançou valsas imaginárias comigo, em cima dos pés dele, aos meus tenros quatro anos de idade. Que, ano após ano, encampou todos os meus cadernos e apostilas com o máximo do perfeccionismo. Foi ele que, a duras penas, tentou me ensinar Matemática por anos a fio (sem sucesso, devo reconhecer!). Foi meu pai também que pagou todos os meus 20 anos de estudo até a conclusão da faculdade, me deu meu primeiro carro, me estimulou a perserguir e conquistar os meus sonhos e me acolheu em todos os momentos de tristeza e auto-abandono.

Quando o vejo tratando o Lucca não apenas como o neto mais querido desse mundo, como também o filhinho homem que ele não teve, eu o vejo ainda cuidando daquele Beto pequenininho, que foi abandonado pelo pai tão menino quanto o Lucca. E vejo que ele faz de mim, da minha irmã, até da minha mãe querida, além do próprio Lucca, a criança amada, protegida, segura, querida e bem acolhida que ele sempre quis ser.

Assim, eu até posso ser "pãe" (uma vez que as contas, as broncas, grande parte das responsabilidades de se cuidar e de se criar um filho estão comigo - e por opção!), mas, como eu, meu pai também assumiu um papel dobrado que só traz um amor em dobro também. E como é bom ter a ele - e não a qualquer outro traste que se diz homem ou pai - como o melhor exemplo masculino que meu filho poderia ter nessa vida!

Salvem todos os homens que são pais de verdade e também todas as mães que cumprem esse papel brilhantemente, com o principal objetivo de criar filhos decentes e dignos para esse mundão de meu Deus!

E como diria o ator Milton Gonçalves, em entrevista genial ao programa "Em busca do pai", do canal GNT: "Aquele que é pai não tem o direito de esquecer o seu fiho. E mesmo quando longe muito tempo, no reencontro, tem que manifestar alegria de rever aquilo que é o seu vínculo fundamental.". Em minhas próprias palavras, eu não definiria melhor o que vai aqui dentro...

E ponto, parágrafo. Até o próximo capítulo!

domingo, 29 de julho de 2012

História de começo, meio e...

Lembro de que sempre gostei de ler, mesmo quando eu ainda não sabia ler. Pedia ao meu pai que lesse uma história de gibi para mim, antes de dormir. E ele sempre fazia isso com efeitos sonoros, onomatopeias e tal. Era o momento mais esperado do dia. E quando eu finalmente aprendi a ler, do alto dos meus seis anos, parece que um mundo se abriu para mim. E eu nem sabia o que era inglês ou globalização.

Quando eu lia, fosse um livro, um gibi ou tirinhas no jornal, me parecia que eu podia viver várias vidas em uma só. Podia ser outra pessoa, mesmo que continuasse fisicamente a ser a mesma. Podia ter outros nomes, falar outros idiomas, morar em outros lugares, ter outras famílias e até amores – sem nem saber direito o que raio eram amores. E tudo isso sem sair de mim ou daquela vida que eu nem sabia como era ou no que ia dar.
Ao longo dos anos, li incontáveis livros, sobre zilhares de histórias, cenários e personagens. De uma forma ou de outra, sempre me identifiquei com algum deles e aquele jeito de ser passava a compor minha personalidade. Depois de algum tempo, me dei conta de que, na verdade, são os livros que nos escolhem. É impressionante como um livro cai em minha mão, de forma completamente inesperada, e vem ao encontro do momento que estou vivendo. É como se eles abraçassem meus ombros e me dissessem: “seja o que for, vai ficar tudo bem”.
Todas as vezes que sou escolhida por um livro, algo de muito importante está se passando em minha vida. É quando, mais uma vez, tenho a oportunidade de sair de mim e buscar o desconhecido. Atravessar um rio de outras vidas, saborear um pouco de cada uma delas, flertar com o escuro e retornar com a certeza de que não adianta: por mais que eu conheça e reconheça outras vidas tão interessantes ou bacanas, sou eu mesma quem eu quero ser para o resto dos meus dias.
No lugar certo
Ao me deparar com essa certeza, uma enorme curiosidade me é despertada. Sim, porque passei as últimas três décadas da minha vida me desculpando por existir. Desculpando-me por ser quem eu sou, por me sentir como me sinto, por pensar o que penso e por me expressar do jeito que me expresso. De alguma forma, sempre achei que a culpa fosse minha. Que eu havia perdido o timing das coisas, que eu que não era boa o suficiente, que aquele trabalho, aquela condição ou aquela pessoa era demais para mim.
Eu não sei por que me sentia assim e porque achava que era eu a culpada por tudo. O ponto é que hoje, quando deito a cabeça no travesseiro, tenho comigo a consciência e a leveza no coração de que eu fiz tudo o que eu podia fazer até aquele momento. De que fui a melhor pessoa para mim e para o meu entorno, sobre tudo que me foi possível. Tenho o sentimento de que valho muito a pena e de que sou sim um misto de sensações, emoções, pensamentos, ações e realizações. E porque sou humana, simples assim.
Mas o que livros têm a ver com isso? Bem, posso dizer que, de verdade, chegar a essa consciência, a esse nível de autoconhecimento só me foi possível por que muitos livros foram digeridos ao longo do tempo, e que me foram fundamentais para perceber que cada coisa tem o seu lugar, inclusive os sentimentos. Além dos livros, também a espiritualidade, a terapia, a busca incansável pela evolução. Sim, porque a verdade é que eu mesma sou livro por essência; sou longa, profunda, com narrativa, discussões, fantasias, acontecimentos, começo, meio e fim. Mas a hora da conclusão ainda não chegou. Ponto e espera o próximo capítulo!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O negócio é se bancar


Troço chato nessa vida é conviver com quem fica em cima do muro. Nem dá e nem desce. Não opina, só escuta. Não se coloca, só se esconde atrás das opiniões alheias. Não se banca, só procurando sombra em quem se arrisca e confia no próprio taco.

Honestamente, eu não sei qual é a dessas pessoas e o que elas têm para me ensinar. A ser prudente? A não escancarar a minha opinião? A me resguardar de exposições em cenários não-amistosos? Pode ser tudo isso, mas acho que essas pessoas me ensinam, sobretudo, a não ser como elas.

Não tô falando aqui que me acho melhor, só porque expresso o que sinto e o que penso por meio de linhas como estas, ou pelos olhares e gestos que saem de mim frente às situações do dia a dia. Tô falando sobre a coragem de se bancar. Sobre apostar no próprio taco e dar a cara para bater de que é enfrentando a vida que as coisas realmente mudam e podem ser melhores.

Eu sinceramente não conheço pessoa que tenha conseguido fazer um turn around com a própria vida, sem ter tomado decisões. Mesmo que fossem aquelas conflituosas, que ninguém quer tomar, que ninguém quer pôr a mão, mas que são um santo alívio no momento em que se deixa a vida seguir o seu curso.

E isso é tão curioso, porque hoje foi um dia em que me deparei com uma serie de sinais sobre a forma que conduzo minha existência nesse mundo. Durante uma reunião de trabalho, um criativo virou pra mim e comentou sobre a forma não-linear como toca a vida, filosofando sobre o fato de que é um cara que nunca teria uma vida de algo só; um casamento só. Uma casa só. Um trabalho só. Um plano de vida só. Ele se diz alguém que sai do prumo, que busca respostas, que vive uma inquietação constante que, ao mesmo tempo, atormenta e alivia, porque mostra a constância e a fragilidade da vida.

Ao lado dele, tínhamos uma colega que é o oposto desse cenário. Alguém estável, de vida equilibrada, sem sustos, sem grandes surpresas. E eu ali, entre eles, fiquei impressionada ao trazer esses exemplos pra mim. Enxerguei com uma clarividência sobrenatural o fato de que jamais serei alguém plano, uma mulher de uma vida calma e simples. Eu não sou assim. Pode ser que um dia eu esteja assim, mas não sou hoje e nem sei se serei em algum momento futuro.

Mulher de fases
Enxergo em mim uma Ana de mil facetas, de gargalhadas exorbitantes e uma tristeza sem fim, de zilhões de contradições e buscas desenfreadas por respostas que não apaziguam minhas perguntas e que não me deixam parar nunca. Me vejo nesse mundo de cabelos compridos (hoje, compridos. sabe-se lá amanhã...), lápis nos olhos, penduraquilhos nos braços e saltos no céu. Alguém que tem medos, certezas, que se engana, que adora observar as sensações e emoções do outro, que cai, mas não desmorona... que ainda acredita em amor de verdade. Aquele amor que mistura a paixão, a admiração, o respeito, o medo, a insconstância, o frênesi, a raiva, a calmaria e parceria de uma vida inteira.

No meio disso tudo, o que enxergo é uma Ana que se banca, independentemente das consequências. Que vive porque sabe que, no fundo, a resiliência é prima-irmã das conquistas que realmente valem a pena. Sou eu assim: doida, santa, muda, coragem. Mas sou eu, imperfeita assim, que assumo meus erros, que odeio injustiça, que não suporto indecisões, incoerências e esquizofrenias. Que ama crianças, idosos e cachorros, além de árvores, flores e o ceú com ou sem chuva, com ou sem sol ou lua. Sou essa aqui que precisa das letras, das palavras e do espaço em branco pra colocar pra fora tudo o que se mistura, se configura e se entrelaça dentro de mim.

Sou essa Ana que não aceita mais "dog days", nem sentimentos pela metade. Sou essa Ana intensa, independente, forte, medrosa, marcante, idealista, perdida e achada 2.587 vezes por dia. Mas sou eu. E me aceito e me amo assim mesmo. Até o dia de virar a curva e dizer tchau.

É isso!

terça-feira, 15 de maio de 2012

O que está dentro está fora e vice-versa

Ao longo dos anos, com muita paciência e dedicação, vamos construindo uma pessoa melhor dentro de nós mesmos.

Por vezes, a gente até acha que bem se conhece, ou que pelo menos se conhece melhor. Mas é inegável que – principalmente durante os momentos de tensão – a gente se perceba um verdadeiro estranho para si mesmo.

Tive dessas reações ontem, durante o desenvolvimento de um projeto. Me bateu o pânico do último minuto, pensei em desistir, dei uma surtada geral. Minhas mãos tremiam, meu estômago doía e minha cabeça ficou até zonza. Depois de tanto tempo, conduzir algo realmente estruturado e importante, que impacta na vida de tantas pessoas, me caiu como um peso incomensurável. Entrei na auto sabotagem e duvidei de mim.

Mas, naquele momento, não duvidei só de mim; duvidei de Deus também. Momentaneamente, tive medo e a gente bem sabe que menos é nada menos que falta de fé.

São momentos assim que me fazem rever como conduzo minha vida. Fazem com que eu repense sobre minha relação com Deus e comigo mesma. Fazem com que eu reveja o quanto tenho fé em mim, nEle e na vida, no melhor, no lado cheio do copo.

As coisas externas, por vezes, nos turvam os olhos e nos fazem perder o foco daquilo que é realmente importante, de onde raios queremos chegar com tudo isso. Mas isso também é bom, pois me obriga a puxar o freio de mão e voltar para o caminho que desejo para mim. Todos os dias, ao acordar e também ao dormir, eu me forço a refletir sobre todas as coisas e pessoas pelas quais posso agradecer. Me forço a perceber – e percebo mesmo! – que a luz sempre é mais forte, por maior que seja a escuridão.

Nada é de graça
Como nem tudo está perdido, tantos anos de terapia e religiosidade (além do empenho em evoluir) têm surtido seus efeitos. Dez minutos depois, dei um “giro 180º” e percebi a baita sacanagem que estava fazendo comigo mesma.

Fui ao banheiro, molhei a nuca, recompus minha respiração, fiz minhas orações e conversei comigo mesma. Cinco minutos depois, voltei recuperada e pronta para a batalha. Finalizei o material e fiz a apresentação do projeto, que foi 100% aprovado em primeira instância. Ali, era tudo ou nada. Ou seria odiado, ou amado. Que bom que foi a segunda opção!

Óbvio que eu poderia me deparar com a frustração de ter o projeto negado e o investimento desse primeiro momento, jogado pela janela. Mas é como tudo na vida: uma aposta, uma oportunidade. 50% de chance de dar certo. Porque, no fim das contas, o ‘não’ a gente já tem. A estória é correr atrás do sim.

E, claro: também como tudo na vida, as conquistas não chegam de graça. É preciso um bocado de paixão, de automotivação e da famigerada resiliência.

O duro aqui é o equilíbrio (também como tudo na vida!), pois o excesso de resiliência pode descambar para a acomodação na zona de conforto, na falta de coragem em assumir riscos, em buscar novos horizontes.

Em meu dia a dia, o que mais busco é equilíbrio. Equilíbrio em minhas relações profissionais, familiares, sociais e principalmente na relação comigo mesma.

Sim, porque é difícil pacas conciliar os lados yin e yang. Fazer com que meus traços feminino e masculino sejam complementares, e não competitivos e destrutivos. Desenvolver em mim aquela confiança cega de que, não importa o quê, tudo é para o crescimento, tudo é aprendizado, tudo é voltado a fazer de mim uma pessoa melhor, mais servidora e voltada a ajudar as pessoas com quem convivo.

É fazer com que minha essência seja transportada para minhas ações e pensamentos diários, refletindo fora o que há dentro de mim – e vice-versa.

Até breve!

P.S.: deixo aqui uma canção que me ajuda a voltar para dentro de mim e, ao longo do tempo, exalar o que vai em meu coração... Enjoy it!