terça-feira, 29 de março de 2011

Dor do Crescimento

Estou há dias para escrever aqui. Já tive um milhão e meio de ideias e sugestões de títulos para esse post. Eu o mudei três vezes até fechar nesse, que você lê aí. Minha sensação era a de ter tanto para falar... Mas em momentos assim, o melhor é realmente calar. Minha amiga Analigia Martins, deusa adorada, sempre me diz que o melhor é nada fazer quando se está perdido.

Pois é. Estava me sentido muito perdida, nos últimos dias. Perdida, porque sei lá como me foquei tanto no externo, que não me achei mais. Acabei me envolvendo com as situações do dia a dia, com as pessoas, com tudo o mais e fui me abandonando, me anulando, me distanciando de mim por meio zilhão de motivos.

Daí, acordei ontem no chão. Arrasada. Não entendia bem o que estava acontecendo. Só sentia o quão longe estava de mim, de quem eu sou, da minha essência, da minha integridade. E morri de chorar. Exatamente como nessa música aqui do Eric Clapton, River of Tears... Deus! O som da guitarra do Clapton ecoa como lágrimas que correm pelo rosto...

Chorei tanto, que me sentia desidratada ao final do dia. Chorei tanto, que precisei de óculos escuros para ir buscar meu filho na escola, às sete da noite (!!!).

Mas tudo nessa vida passa e acordei hoje disposta a me refazer. Eu bem precisava do caos para me reencontrar. Essa minha auto-análise me ajudou a perceber que o que eu vinha sentindo nos últimos dias era nada menos que a "dor do crescimento". Já ouviu falar sobre esse termo? Cientificamente falando, é quando crianças entre 3 e 4 anos até acordam durante a noite por sentirem dor nos músculos e ossos dos membros inferiores, que estão tensionados pelo crescimento do corpo. É como se o organismo relutasse em aceitar que o corpo vai mudar, que vai abandonar um antigo padrão, um jeito que até então dava certo, para migrar a uma nova natureza, um novo formato, um novo estilo de vida.

Junto a essa teoria, me encontrei em uma outra: a da águia. Dessa, você já deve ter ouvido falar... Aos 40 anos (segundo nosso mestre Google!), a águia tem duas opções para chegar até os 70 - média de idade que vive: morrer no meio do caminho ou rumar para uma dolorida e complexa transformação, que dura pelo menos 150 dias.

Ela voa até o alto de uma montanha e se recolhe durante esse período, obrigando-se a suportar a dor de arrancar com o bico unha a unha de suas patas. Após quatro décadas, as unhas estão compridas e flexíveis demais, a ponto de ela não conseguir mais agarrar e manter firme as presas que captura. Não bastassem as unhas, também com o bico, precisa arrancar pena a pena de seu corpo, já grossa pelo passar do tempo, justamente o que dificulta e pesa seu vôo languido e até então fácil.

Mas não pára por aí... Esse mesmo bico que arranca unhas e penas já está curvado e rígido, que não a possibilita se alimentar da forma necessária. É então que chega o momento mais sofrido e ela precisa batê-lo na rocha, até que ele seja arrancado de seu rosto. É depois de todo esse processo que, após cinco meses, ela parte rumo ao vôo da renovação e, se tudo der certo, para mais 30 anos de vida. Há quem diga que o processo seja inverso e ela comece pelo bico, mas para mim não é isso que verdadeiramente importa.

Tenho comigo que, mesmo vivendo outros 30 anos, a águia (em toda a sua teoricamente falta de consciência mental) nunca mais conseguirá ser a mesma e ela sabe disso. O caos, o horror da dor maior, o sofrimento profundo (seja ele causado por que motivo for e pela culpa de quem for) nos obrigam a nascer de novo. E é isso que me faz pensar - com a ajuda fundamental de amigas como Bruna Bezerra Lima e Vanusa Costa, além da Alexandra Estela e da Analigia - que todos os "nãos" que eu já recebi da vida precisam ser celebrados.

Os "nãos" vividos, somados à dor do crescimento que vivi e ainda vivo, me obrigaram a seguir em frente na vida. E nem todo dia é fácil, como sei que também não é para você ou para qualquer um dos nossos. Mas o que sinto de diferença em mim é que eu vivo inteira. Eu entro limpa, inteira e intensa em toda e qualquer situação, seja com quem for. O medo já não ganha mais batalha alguma da minha existência. E tenho muito orgulho disso! Medo, pra mim, é falta de fé - em mim, em Deus, na vida.

A dor do sofrimento agudo que vivi sete anos atrás e, então, três anos atrás me mostrou que eu sou capaz de suportar qualquer coisa e que nem toda situação é grande demais para ser transposta. A dor me trouxe coragem, me mostrou meu próprio valor. Me fez perceber que desistir é fácil e para muitos, mas que persistir é complexo, para mínimos e que vale muito a pena.

Eu não sei o que você tem vivido, quantas lágrimas tem derramado, quantos cabelos brancos ou rugas já ganhou pela preocupação desmedida de não ter seu sonho realizado, sua meta cumprida, seu amor ao lado. O que eu sei e posso compartilhar com você aqui é que a dor do crescimento passa e tudo se encaixa no lugar certo. A princípio, pode te parecer o próprio cenário do horror, mas tire os óculos, dê uma limpada nas lentes, ajuste as astes atrás das orelhas, tome um pouquinho de distância... Foque de novo. Você vai ver que os planos que Deus (ou Universo ou dê o nome que você quiser) tem para você são muito melhores que os seus.

Um beijo meu!

4 comentários:

  1. Ana, o que mais me encanta nos seus textos é a sinceridade. Falar pra todos que não se esta bem exige muita coragem. No presente ou no passado. Você relacionou lindamente a dor do crescimento, a brava luta da águia e a da sua própria. A nossa querida Bruna, certa vez, me disse a seguinte frase: "eu não me encaixo nesse mundo". Eu peguei essa frase pra mim. Conhecer você e um "pingado" de outras pessoas, algumas vezes, me faz acreditar no contrário. Grande beijo.

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  3. Este seu post deveria circular na internet, pois ele tem um tom terapêutico, pelo menos pra mim foi melhor que uma sessão de terapia. Quem é que não viveu ou vive a dor do crescimento. Eu posso dizer que venho sentindo isso há um bom tempo. Não por ter síndrome de Peter Pan, que isso realmente acontece comigo, mas sim por nao saber lidar com o que foge do meu controle, com o que eu não posso interferir.
    Você é muito guerreira, forte e destemida. Assim como a águia, você ja começa a se renovar e, acredite Aninha, o que está por vir pra você será tão sensacional, que as dores, ah, essas serao pequenas perto da felicidade que você vai encontrar, porque é isso que você merece....
    Obrigada pelo post. Sincero, inteligente e cheio de sentimento....amei! Bjoss

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  4. Primeiro, tô bege!
    Segundo, entendo cada vírgula do seu texto e sinto-me orgulhosa de você. Estamos juntas nesta jornada emocional e espiritual. Parabéns por cada conquista interior. A consequência de tudo isso só pode ser um futuro belo e feliz, pois você está alcançando muito merecimento.
    Grande beijo!
    Ana

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