sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pequenas maldades

Por indicação de uma amiga querida, recebi um artigo de Eliane Brum – colunista da revista Época – que me tirou a respiração. No texto, o melhor que li em meses e brilhantemente escrito, a jornalista comenta sobre uma cena que presenciou em um shopping center e o sofrimento que se pensa ver e ser somente do outro. Trata-se de um idoso que anda com dificuldades no corredor do shopping, alquebrado e zombado por pessoas que apontam para ele e riem de sua dificuldade ou do ridículo que pensam ver nele, pela peruca mal colocada e a fralda geriátrica evidente em seu corpo mal coberto. O link é esse aqui.

Trago esse tema para o blog, pois o que Eliane viu e comentou nada menos é do que milhares de situações que presenciamos e sentimos na pele no dia a dia. Tem dúvida? Então, responde essa: quantas pessoas sinceramente você conhece, que praticam pequenas maldades no dia a dia, como apontar o dedo e rir de um idoso em condições de fragilidade? Eu conheço, infelizmente, dezenas. Gente que está aqui na minha frente ou ao meu lado, no trabalho. Gente que é amigo de amigos meus. Gente que é, também infelizmente, da minha família. Gente que faz intriga para se sentir um pouquinho menos medíocre. Gente que joga o papel (e outras coisas) na rua, porque acha que não estará aqui quando tudo ficar mais lixo do que hoje. Gente que consegue transformar coisas simples e bacanas em situações duras, difíceis e insuportáveis de lidar, puramente em razão do ego e da vaidade.

Gente que é seu líder no trabalho e que faz questão de te ignorar, ignorando também todas as obrigações de seu job description e a razão pela qual foi contratado e pago, como ser uma referência para sua equipe e saber fazer gestão de pessoas. Gente, meus caros, que justifica atitudes horríveis, escondendo-se atrás dos problemas que teve na infância, na adolescência e até na fase adulta. Infelizmente – ou felizmente! -, eu conheço várias pessoas assim. Várias pessoas que supostamente são normais, dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade atual e pela lei federal, mas que são tão malvadas nas pequenas atitudes do dia a dia, que causam medo. Medo do quanto ainda podem ser más, do quanto ainda podem prejudicar, de quão longe ainda podem ir para esconder tudo aquilo que elas mesmas não conseguem enfrentar.

Eu tenho medo de gente que não se assume, de gente que é omissa no que pensa, fala e faz, de gente que acha que vai ser jovem pra sempre, de gente que não enxerga nada além do próprio umbigo e objetivos que traçou para essa mera vida aqui, terrena e mundana. Eu tenho medo, meus amigos, dessas pessoas que apontam um idoso no shopping, achando que elas nunca viverão algo do tipo. Achando que sempre serão amparadas, amadas, endinheiradas e bem quistas. Eu tenho medo, porque pessoas assim são capazes de tudo – até de matar, até de roubar, até de trair, até de mentir.

Pessoas comuns assim, tão dentro da sociedade e da lei, são aquelas que vendem um saco de 5kg de arroz a R$40 para os coitados que acabam de perder suas casas e vidas nas tragédias causadas pela chuva no Rio de Janeiro e em São Paulo. Pessoas assim, tão teoricamente inofensivas, destroem casamentos e famílias, pensando no próprio umbigo e prazer. Pessoas assim, tão comuns, são aquelas que falam mal de você no trabalho e puxam o seu tapete, só para se sentir mais poderosas, donas de mais visibilidade e talvez dinheiro. Pessoas assim, tão superficialmente bacanas, são aquelas que mantém um relacionamento egoísta e geram um filho que não assumem, só para se sentirem menos sozinhas e desamparadas diante do próprio caos que sentem internamente a cada segundo.

Eu sei que não há como viver sem se sujar na lama, como disseram meus amigos Carol Chamma, Leo Bandeira e Marcelo Vieira, mas digo não às pequenas maldades praticadas por pessoas pequenas de moral, de índole, de caráter, de valores, de princípios, de consideração, de amor. Digo não a quem aponta idosos cambaleantes e emperucados no shopping, aos invencíveis de plantão. Como vocês já devem saber, eu sou esta aqui: a Ana de carne e osso que se emociona, que chora, que sente raiva, que explode de tensão, que acolhe como uma galinha os seus pintinhos, que sente saudade e repulsa, que não tem coragem de ignorar um funcionário, ignorar um filho no mundo, puxar o tapete dos outros, olhar para um homem casado, se aproveitar da fragilidade e infortúnio alheio. Sou exatamente essa aqui que usa o texto para não implodir de dor, raiva e tristeza. Que usa das palavras escritas para expressar quem é. Fora às pequenas maldades! Fora!

Um beijo meu!

2 comentários:

  1. Fora mesmo! Amei a reflexão e concordo com ela. Bjs

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  2. Oi Ana, é duro encarar a realidade. Cada um de nós tem inúmeros defeitos... mas cenas assim é difícil aceitar do outro, não é? Essa semana, explicamos para o Mig a diferença entra uma " velha ", e uma " senhora ". Tive que ensinar isso para ele dentro de um supermercado... foi alí que sentí a necessidade de dizer a ele qual a diferença entre algo ser velho, e uma senhora... não era uma velha, e sim uma senhora!!! Ele logo aprendeu ( Graças a Deus ), serviu para eu ficar mais atenta a essas coisas, e tb, não quero jamais em toda minha vida, esperar um dia, que meu filho, aponte um idoso de perucas e fralda! Que todos os pais estejam mais atentos na educação de seus filhos, pois nós, seremos os futuros idosos, e espero contar com meu filho!!! Amooo seus textos e vc!!!

    Grande beijo!!!!

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