sexta-feira, 27 de maio de 2011

Roteiro, cenas e reticências

Eu não sei você, mas eu já vivi histórias que nem em meus sonhos mais loucos imaginei que, de verdade, viveria um dia.

Uma dessas histórias teve um desfecho maravilhoso, que foi a chegada do Lucca, meu filho de 6 anos tão amado. A vinda dele foi o lado bacana, mas tudo o que envolveu essa gravidez foi tão fora de script, que eu nem saberia como dizer. O mais maluco é pensar que as coisas vão acontecendo como uma sucessão de consequências desmedidas, frutos de decisões mal tomadas (ou mal pensadas), como um dvd que foi colocado para rodar no modo rápido e que você mal consegue ver as cenas passarem.

Eu sei. Parece confuso o que estou escrevendo. Nem eu entendo tudo o que aconteceu e ainda acontece, grande parte das vezes. O que vejo são sete anos enlouquecedores, com imagens que correm frente aos meus olhos, hora em preto e branco, hora coloridas, com som, mudas, pausadas, corridas. E, nessa história, há lágrimas, muitas lágrimas, mas há sorrisos, há momentos de partilha, há um casal sentado no sofá, assistindo The Practice na tevê, rindo do sotaque da brasileira recém-chegada e das dancinhas ridículas do americano de óculos quebrados.

Nesse roteiro de filme nunca lançado, há brigas, há afeto, há inúmeras frases não-ditas e malditas, há tórridos momentos de amor e há lágrimas grossas que rolam pelos rostos perdidos - um na América do Sul, o outro na do Norte. Há, ainda, mais de 300 e-mails trocados em mais de 2.555 dias passados, telefonemas frustrados, centenas de fotos enviadas e muitos sentimentos guardados. É uma história inacabada.

Por vezes, eu penso que essas histórias que a gente vive - tão singulares, tão únicas e completamente imprevisíveis - são as que revelam quem verdadeiramente somos, do que verdadeiramente somos capazes, quanto de fato podemos superar, fortalecer e prosseguir. Penso que são essas as histórias que passarão como um filme em frente aos nossos olhos, no momento de partir. São elas que nos marcam de uma forma ímpar para o resto de nossas vidas.

Histórias assim jogam por terra nossa valorosa honra, nos fazem perder o medo de errar ou de continuar. Elas consomem toda a nossa capacidade de racionalizar um sentimento e deixam espaço apenas para um coração "wide open", que só sente, que só perdoa, que só quer de volta, que ama incondicionalmente.

O lado ruim é que a gente não escolhe o final que elas vão ter (pelo menos, não conscientemente). É um roteiro de final aberto, que gera ansiedade, medo, saudades, angústia, frustração e expectativa. Um roteiro de reticências... Com uma possível trilha sonora de John Mayer...

Um beijo meu.



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